Casa de Criadores teve cores, brilhos e modelos transexuais!
Os desfiles da 30ª edição da Casa de Criadores começou nesta segunda-feira na nova casa, o Cine Joia, no Bairro da Liberdade, em São Paulo. O apertado palco do local, que acabou por limitar a apresentação das nove marcas da noite, transformou-se em passarela para receber modelos transexuais durante a participação especial do designer de sapatos Fernando Pires, e da apresentação da cantora Shirley Carvalho, interpretando com potência e perfeição o hit de Adele,Rolling in the Deep, para Walério Araújo.
O estilista, num de seus desfiles mais contidos das últimas temporadas, trouxe a inspiração dos concursos de misses, com vestidos drapeados e feitos em moulage, que contornavam a silhueta feminina de forma sensual. "Quis voltar ao começo de minha carreira, quando comecei a ganhar dinheiro com moda, nos anos 80, vestindo misses", disse o estilista ao Terra. Suas misses vinham em tons escuros, como cinza e preto, até finalizarem a apresentação com cores flúor - verde, pink, lima e abóbora - e com muitas camadas de tule.
Walério, assim como os demais participantes, comentaram do reduzido espaço do local, tanto para o desfile quanto no backstage, onde modelos, estilistas e maquiadores quase não tinham espaço para se mexer. "O lugar é muito legal para se fazer apenas um desfile, como um evento único. Com várias marcas fica mais complicado", disse o estilista.
A transexual Carol Marra veste body justíssimo branco durante desfile de Fenando Pires
Foto: Marcelo Soubhia/Agência Fotosite/Divulgação
Fernando Pires escolheu as transexuais Fabiana Oliveira, 26 anos, e Carol Marra, 23, para mostrar, junto com as outras modelos, sua variedade de sapatos, que vão desde botas que sobem até o meio das coxas, com ilhoses, em cores fortes ou de python, a seus scarpins e sandálias altíssimos. Para enfeitar, desenhos como olhos brilhantes ou totalmente forrados com cristais ou pérolas, para Cinderela nenhuma botar defeito.
Silhuetas
Os desfiles do line-up principal mostraram que nomes como Rodrigo Silvestre, Mark Greiner, Juss e Alê Brito caminham pela boa estrada de cortes e acabamentos precisos, a partir da alfaiataria - tendo a silhueta mais afastada do corpo ou justíssima, chamando a atenção.
Com inspiração no ilusionista Harry Houdini, Ronaldo Silvestre trabalhou com peças estruturadas masculinas e femininas, tendo como fios condutores os jeans, tiras e fivelas, que apareciam ora formando uma estrutura rígida mais afastada do corpo, ajustadas ou costuradas uma a outra, ou se transformando em vestidos mais soltos. Além dos jeans, o estilista mineiro, que voltou ao line-up principal após dois anos, apostou em sedas trabalhadas com acabamento rústico. Destaque também para as peças de fundo amarelo estampadas com motivos rendados. "Pelo menos 70% dos tecidos usados são ecologicamente corretos, seja na produção ou no tingimento."
Mark Greiner, agora fazendo parte do line-up principal do evento (na última edição veio como representante do Dragão Fashion, de Fortaleza), trouxe coleção inspirada na montaria. No palco-passarela, casacos, vestidos e leggings (as calças dos cavaleiros) vinham em tons sisudos, como cinza e marrom, ganhando brilho com bordados dourados. O estilista trabalhou com plush, devoré e veludos. Ênfase nas mangas tipo sino, largas e estruturadas.
O trabalho no couro ecológico de Alê Brito ganhou destaque com as peças metalizadas em azul, roxo e prata. Com silhueta anos 1990-2000, o estilista apresentou peças retas, com ombros marcados sem exageros e muito zíper. Cordas colocadas sob o couro criavam relevos verticais ou horizontais nas peças. O estilista pode não ousar muito nas formas e shapes, mas oferece roupas que dão vontade de usar, como as jaquetas em duas cores, que formam desenhos geométricos. Ok, na vida real não é preciso deixar os seios á mostra sob os zíperes abertos, como foi apresentado no desfile.
A masculina Juss trouxe um homem com a silhueta afastada do corpo, reta, quadrada, com peças sobrepostas de alturas diferentes. Tudo que leva a um gostoso e necessário conforto, desde a modelagem das calças até as peças feitas de tecidos de decoração, com desenhos quadriculados pequenos, xadrezes e riscas, cortados e recosturados de forma a criar efeitos ópticos. Destaque para as duas peças superiores feitas com lãs vintage, produzidas nos anos 1950, trabalhadas com desenho em ziguezague em preto e verde ou preto e azul, com fios dourados para brilhar.
Projeto Lab
O estreante no evento Fernando Cozendey traduziu sua inspiração "O Ato Fúnebre" em peças justíssimas feitas de Lycra preta e branca. As peças ganhavam desenhos que lembravam caveiras ou brincavam com a imagem da camisa, gravata e paletó. Listras, botões e tiras também enfeitavam as roupas, com bom efeito visual, mas difícil de usar.
Luiz Leite brincou com seu sobrenome e batizou sua coleção masculina de Milk. Todos os modelos vinham em branco e traziam casacos, curtos ou compridos, calças justas, mas com gancho mais largo e macacões (lembrando os chamados "mijões" dos bebês). Em 100% algodão orgânico, as roupas respiravam conforto, remetendo ao universo infantil das crianças que ainda se alimentam de leite.
Preto e branco dominaram a apresentação de Gabriela Sakate, que trabalhou com algodão dublado, crepe e aplicação de foil metalizado, conferindo brilho às peças, tanto no algodão quanto no silicone, que apareceu na cor cobre e azul em estrutura rígida. Destaque para os cortes mais distantes do corpo e à mistura do algodão (de longe lembrando lãs) aos crepes, misturando pesos. Outro ponto interessante eram os tules que deixavam com transparências estratégicas, como os aplicados nos ombros e nas mangas.
Fashion Mob
No domingo, o Fashion Mob, evento que faz parte da Casa de Criadores e que reuniu em passeata pelo centro de São Paulo estilistas inscritos para mostrar seus trabalhos, teve como vencedor o baiano Gilber Lopaka, 28 anos, com roupas de festa nas cores preto, azul bic e prata.
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